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Os gatos não devem beber leite de vaca?

6 Ago 2023 - 08:30
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Os gatos não devem beber leite de vaca?

Nos desenhos animados, nas ilustrações infantis e até nas redes sociais, a imagem de um gato a beber leite de uma taça é tão comum como a de um cão a roer um osso. No entanto, em várias publicações online alerta-se que os gatos não devem beber leite de vaca. Verdadeiro ou falso?

É verdade que os gatos não devem beber leite de vaca? Os gatos não devem beber leite de vaca

Em declarações ao Viral, Mafalda Pires Gonçalves, veterinária e responsável pelo serviço de Nutrição e Centro do Peso Saudável do Hospital Escolar Veterinário da FMV da Universidade de Lisboa, refere que “não é recomendado” que os gatos bebam leite de vaca.

Isto porque, com o desmame, os gatos vão “perdendo a capacidade de digerir a lactose” (o açúcar do leite), devido à falta ou à diminuição da produção da enzima responsável por decompor este açúcar, a lactase.

O desmame dos gatos pode iniciar-se a partir das quatro semanas de vida, quando estes felinos “começam a conseguir mastigar e a comer outro tipo de alimentos”, por já terem grande parte dos dentes. No entanto, aponta Mafalda Pires Gonçalves, “idealmente”, deve acontecer perto dos dois meses de idade.

“Se pensarmos que o leite de vaca nem sequer é da mesma espécie, fará mais mal do que bem ser oferecido como alimento, independentemente da idade do animal”, explica a responsável do Hospital Escolar Veterinário da FVM-UL.

Se o gato beber leite de vaca, pode ficar com “diarreia ou fezes moles, vómitos, barriga inchada e dor abdominal”, acrescenta.

Um artigo do “Australian Veterinary Journal” aponta que os gatos podem tornar-se sensíveis a leite de vaca, assim como a peixes, cereais e carne bovina, o que pode provocar sintomas gastrointestinais, respiratórios, na pele ou no sistema nervoso central.

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Como deve ser a alimentação dos gatos?

Os gatos não devem beber leite de vaca

Os gatos “costumam gostar” de leite de vaca, porque, além de ser rico em gordura, tem um “cheiro característico” que lhes lembra “algo familiar”, uma vez que bebiam leite da mãe quando “eram bebés”.

Quando nascem, o leite materno “é fundamental” por ter anticorpos que o vão proteger nas primeiras semanas de vida, esclarece Mafalda Pires Gonçalves. 

No entanto, a veterinária realça que, se o gato bebé não puder beber o leite materno, deve beber “leite artificial produzido para a espécie”, que se encontra disponível para compra em centros de atendimento médico-veterinário.

A alimentação dos gatos deve ser adaptada à fase da vida do animal, explica ainda a responsável pelo serviço de Nutrição e Centro do Peso Saudável do Hospital Escolar Veterinário da FMV da Universidade de Lisboa.

Até aos dois meses, há a fase da “lactação” em que o felino deve beber “leite materno, artificial ou alimento seco para a fase do desmame)”. Depois, até ter 1 ano, deve ter alimentação apropriada para “fase de gatinho”

Quando tem um ano e até aos sete, deve ter uma alimentação “de adulto”. Após a marca dos sete anos, deve ter uma “dieta de sénior ou geriátrico”.

Um artigo publicado na revista “Topics in Companion Animal Medicine” refere que, para a manutenção de um peso saudável, a dieta para “sénior ou geriátrico” deve ser de “fácil digestão e rica em proteína”.

A mesma publicação considera, contudo, que há ainda “poucos estudos” sobre a alimentação no processo de envelhecimento de animais de companhia.

Noutro plano, um estudo do “Journal of Veterinary Behavior” procurou determinar se a temperatura da ração influencia a alimentação de gatos idosos. Os investigadores concluíram que a alimentação húmida aquecida pode ser mais atrativa para os gatos mais velhos, sobretudo para os que “perderam o interesse em comer”.

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A alimentação deve também ser adaptada se o animal estiver esterilizado. Nesse caso, recomenda-se uma dieta com “menor densidade calórica” para prevenir a obesidade, aponta a veterinária ouvida pelo Viral. Além disso, a dieta deve ser alterada para a gama veterinária adequada em caso de doença, refere.

Os gatos são carnívoros estritos, ou seja, precisam de um aporte “grande” de proteína animal.

“A sua dentição e o seu sistema gastrointestinal estão adaptados para digerir carne e não produtos de origem vegetal ou hidratos de carbono em excesso”, explica Mafalda Pires Gonçalves.

Os felinos precisam também de aminoácidos presentes em produtos de origem animal, tais como a niacina, a taurina, a arginina e a vitamina A, assinala a veterinária. 

A necessidade deste aminoácidos para “otimizar o crescimento, desenvolvimento e saúde” dos gatos é também referida num artigo do “Journal of Animal Science and Biotechnology”, publicado em fevereiro de 2023.

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Nesse sentido, a dieta vegetariana é “contraindicada” nos gatos, explica a veterinária.

Por outro lado, não deve ser dada “carne crua” aos gatos, uma “tendência alimentar no Reino Unido e noutros países desenvolvidos” que pode provocar “desnutrição e infeções” com salmonella ou bactérias resistentes a antibióticos nestes animais, aponta uma revisão da literatura de 2019 do “Journal of Small Animal Practice”.

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6 Ago 2023 - 08:30

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